2007-03-16

Um pouco de leitura sempre vai bem, e boa leitura é esta a seguir que posto desse violeiro "bão" Ivan Vilela . Compositor e pesquisador, a vida do caipira ele define com amor, sem muita travessia nem balela.

A presença da música na formação da cultura caipira


Autor: Ivan Vilela


É possível pensarmos que a música se portou como um elemento mediador nas relações destas comunidades rurais. Nas festas religiosas, a música atua como o fio condutor de todo o processo ritual. É através dela que os homens e as mulheres do lugar se reúnem e se organizam para fazer com que ritos de celebração da vida e realizações pessoais sejam manifestos. Normal-mente uma folia de Reis envolve toda a comunidade, principalmente quando ela termina o seu giro e chega à igreja do local. No giro, tocadores e devotos se juntam, caminhando, às vezes por distancias imensas, passando pelas casas e levando a benção de «Santo-Reis». Nas noites caminham para um pouso que normalmente é feito na última casa por onde passarão naquele dia. Ali jantam e antes de dormir realizam uma pequena função, onde a música deixa então de ser sagrada e passa a ser profana. Normalmente são cantados verdadeiros romances (modas-de-viola), alguns desafios, onde os participantes se provocam, e não raro danças onde apenas o palhaço da folia* dança, como a jaca, ou formações maiores, como a quatragem. Folia de Reis, dança de São Gonçalo, folia do Divino, folia de S. Sebastião, dança de Santa Cruz, enfim, são inúmeros os ritos que se utilizam da música como fio condutor. Nas colheitas ou mutirões estão presentes os cantos de trabalho. É comum as violas tocarem durante o trabalho, fazendo com que a música dê ritmo aos que estão colhendo ou carpindo (situação comum nas vindimas européias).

Nos cantos de mutirão, muitas vezes dolentes, os homens trabalham cantando e parte da conversa entre as pessoas é feita através do canto.

Já as cantigas de roda passam conceitos e valores de conduta. Assim, a música exerce diversos papéis e é por vezes um elemento amenizador nas relações e aproximador das pessoas.

* Também conhecido como marungo ou bastião, este mascarado é uma das peças importantes na estruturação de uma folia. Além de ser a «alegria da criançada», é o princial responsável pelo sucesso material da empreitada. É ele quem dialoga com o dono da casa solicitando prendas ou dinheiro.

fonte: Extraído da obra de Ivan Vilela, Capítulo X, O caipira e a viola brasileira. www.ivanvilela.com.br