2007-03-26

Violeiro bão, Luiz Viola, do interior de São Paulo (Bauru), comenta no Vionamineira. Obrigado amigo, fique a vontade pois a casa é sua:

Quero lembrar que no artigo "Elogio à passarada" não se fez menção à mais famosa, a mais raiz, a mais caipira de todas as músicas sobre passarinhos da mata: Xintãozinho e Chororó (chororó, assim, com ch), porque o nome das aves é inhambu-xintã e inhambu-chororó.
Mas como eu ia dizendo, compadre, a música é essa: Xintãozinho e Chororó, de Atos Campos e Serrinha, que diz que a gente só se alegra quando pia lá naqueles cafundó: o inhambu-xintã e o chororó.
É isso que faz a gente ter a vontade de garrar na viola na presa na parede, acender o pito e deixar a vida como Deus quiser...
Quanto ao comentário de Almir Sáter sobre o dom da viola, sábias são suas palavras. A viola transcende a pauta musical, é um instrumento que atinge intervalos difíceis de se conceber na nossa música ocidental. Fazendo uma analogia, a cítara indiana produz vibrações cujas notas mal cabem em uma pauta ocidental. A viola também. Faça o teste: pegue uma viola que esteja construindo, antes de fixar os trastes, ponha o encordamento e afine. Corra os dedos na viola. Você que é luthier sabe o que digo.
Quem não entendeu sobre o que Almir disse sobre os acordes, pare para ouvir um ponteio de Ivan Vilela e preste atenção.
A viola tem vida independente. Não precisa do violão para se completar. Isso de dupla viola-violão surgiu na era do rádio, por interesses mercadológicos.
E a viola-caipira surgiu em Portugal, que teve em tempos passados suas terras invadidas pelos mouros que trouxeram consigo o alaúde. Por isso essa ligação da viola para com a música oriental.
Mas agora a viola-caipira é o mais brasileiro dos instrumentos, porque só existe dentro de nosso território. Viola braguesa, ou de outra localidade de Portugal, só se encontra em museu.
E nós não vamos deixar morrer essa cultura que é nossa. Que se construam muitas violas-caipiras!
Abraços,
Luiz Viola
Bauru SP 23/03/2007