2007-02-15

Viola é mulher que se enfeita e fica bonita.

Ajeite sua viola e vamos enter pois, o motivo dela ser tão bonita:
Além de um conjunto de belas fitas coloridas dependuradas (usadas pelo violeiro para adornar a viola em tempos de festas populares), numa boa viola encontramos frisos, filetes e mosaicos de marchetaria (técnica descrita abaixo) . Apesar de ter a função de embelezar o instrumento, serve também para dar reforço à sua estrutura. Por exemplo, o mosaico redondo que contorna a boca da viola na parte frontal, a Roseta, responsável por adornar e reforçar esta parte por onde sai o som. Escava-se a madeira no tamanho do mosaico, depois de colado vêm o acabamento com massinha (pó de madeira + cola branca). Nas emendas das laterias e do fundo, usa-se um filete de madeira pra que fique mais bonita. Em instrumentos baratos, são feitos de papel, pintados ou até mesmo queimando a madeira. Disso podemos pensar que a marchetaria está ligada a boa qualidade do instrumento.

Importante salientar a técnica milenar e artesanal de incrustar e combinar lâminas bem finas de madeira a fim de formar desenhos (flores, figuras geométricas, corações), é a chamada Marchetaria, que também é utilizada em móveis. São raríssimos os profissionais que ainda fazem esta arte, nas fotos tiradas em minha oficina (fotos acima), mostro o lindo trabalho de um deles, o saudoso Luís Carlos Moura de Ibirá(SP).
O mosaico dá mais personalidade à viola, lembrando que é da natureza feminina o gosto de se enfeitar desde os tempos mais antigos. Não sendo diferente, o bom gosto na viola é combinar os desenhos e as cores das madeiras.

*foto ao lado: composição do mosaico por tiras de madeira.

2007-02-14

As madeiras da viola.

Para se fazer uma viola de qualidade, o segredo está inicialmente na escolha da madeira empregada. A mistura entre cores, texturas e densidades dão ainda mais valor ao instrumento típicamente brasileiro. E o mais importante, é a influência direta para o timbre (qualidade de som) da Viola. É mais comum o uso das seguintes madeiras:

Para o tampo e estrutura interna (parte frontal da viola), utiliza-se o "Spruce", de origem canadense ou alemã é uma espécie de pinho, bem leve e macio ao corte, pode ser classificado de A(boa qualidade), AA(média qualidade), AAA(ótima qualidade). Quanto mais são homogêneos os riscos do Spruce, mais caro ele é:

Para o fundo, e laterais, cavalete, uliliza-se o Jacarandá (Brazilian Rosewood), raríssima madeira brasileira protegida pelo IBAMA. Considerada a melhor madeira do mundo para fazer também as escalas. É pesada e um pouco dura ao corte, exala um perfume característico, variando de tom bem escuro, e claro com rajados amarelos. Sua serragem (pó) irrita um pouco as narinas.



O Mogno (Mahogany), madeira nobre encontrada no Brasil, é também utilizada para fundo e laterias da viola, de cor marrom característica, é macia ao corte e de peso médio. Sua dificuldade (quando cortada ou
plainada) é que "desfia muito", soltando ferpas.


O Cedro-Rosa(Red Cedar), madeira brasileira bastante parecida com o Mogno, se diferencia por ser mais claro-róseo, e de perfume característico . è bem macio ao corte, não soltando ferpas, portanto, bom para compor as laterais, às vezes também o fundo. É bastante utlizado para fazer o braço da Viola.

A Imbuia, madeira brasileira macia ao corte e de cheiro característico. Utilizada para compor laterais da Viola. Sua cor é de tom variado, entre um verde escuro a rajados amarelados.
O Ébano (Ebony), madeira estritamente Africana, de cor negra, pesada e média densidade para dura. Usada para cavaletes da Viola e principalmente para Escalas. Quase não apresenta veios (poros) e quando envernizada parece um "plástico". Curisos que do tronco da árvore, aproveta-se somente o miolo. É muito utulizada em escalas de instrumentos clássicos como o violino, celos. Comparando, muito luthiers preferem ainda o Jacarandá por considerarem o Ébano um pouco pobre de sonoridade mais muito bonito esteticamente.

2007-02-13



Corpo de Viola

A sensualidade se esbanja em nossa cultura, seja incorporada nas curvas de nossas lindas mulheres, pela influência riquíssima das danças africanas que cultuam as saliências, seja na presença de nossa natureza exuberante. Pra viola não poderia ser diferente. Seu corpo, que é mais cinturado que o violão, se encaixa perfeitamente nos braços do violeiro que a faz chorar. Viola tem salto, que pode ser alto, tem cintura, que pode ser fina, viola tem mão, viola tem braço, tem boca, tem costas, tem até costela. E pra completar tem até bigode! Bigode?! Ôpa caboclo, perai... o que tem de sensualidade nisso? Particularmente, bigode só aceito mesmo na viola.
* Nas figuras: Uma de minhas Violas na fôrma (dir.) para a montagem da estrutura (esq.).

2007-02-07

Eu e a Viola

Já gostava muito, mas foi recentemente que descobri essa paixão que tanto faz sacudir meu coração de violeiro. Viola-de-pinho, Viola cabocla, Viola chorosa, Viola sertaneja, Viola caipira, seja lá como for, estes são alguns dos nomes deste instrumento que me dedico a ouvir, com muita atenção, me atento ao seu ponteado, me embalando nas toadas, cururús e pagodes bem tocados. Não seria completo, se não pudesse dar vida à ela. Reuni todos meus conhecimentos de luthieria, me dedicando inteiramente dando a ela a vida, e num gesto de simplicidade, ela me devolve a vitalidade pois cada batida em suas cordas é uma batida forte em meu peito, vicia como cachaça, e não sara nem com remédio de curandeiro.